Variação espacial e temporal da composição de assembleias de gafanhotos (Orthoptera: Caelifera) em áreas de Cerrado na Chapada dos Guimarães - MT, Brasil

Abstract

Estudos da variabilidade espacial e temporal da composição e das abundâncias dos insetos herbívoros podem fornecer modelos preditivos mais robustos para conservação de espécies, o que se torna imprescindível diante do acelerado processo de perda de habitats naturais e alteração antrópica da paisagem, como o bioma Cerrado com perdas de 47,8% de sua cobertura até o ano de 2008. Os gafanhotos são um grupo dominante de insetos herbívoros em todo o mundo, e sua alta diversidade, importância funcional, sensibilidade à perturbação e facilidade de amostragem os tornam potencialmente úteis para ações de conservação. Para o Brasil, há registro em todas as dez famílias neotropicais de 734 espécies, em 450 gêneros. Assim neste estudo se propõe investigar a variação espacial e temporal da composição das assembleias de gafanhotos em áreas de cerrado e se a estrutura da vegetação e o estresse hídrico ambiental explicam a variação espacial, e temporalmente se a variação das assembleias é explicada pelas estações de chuva de seca. As coletas foram feitas em dez áreas com diferentes fisionomias de cerrado na época de final de chuva, início da seca, seca e chuva do ano de 2011. Utilizou-se de busca ativa com o auxílio de rede entomológica por dois coletores durante três horas em três períodos do dia, em uma área de 10 x 250m paralela a uma curva de nível. Em 15 pontos sorteados ao longo da linha central da área de coleta, distantes no mínimo em cinco metros, foram medidas em uma área de 1m2, a área de cobertura do solo por gramíneas, a altura e o diâmetro de todas as plantas acima de 20cm. As plantas foram distribuídas em quatro estratos conforme a altura e o diâmetro. A estrutura da vegetação foi obtida por análise de componente principal e a composição das assembleias mediante uma PCoA. Os dois primeiros eixos da PCoA (variáveis respostas) e os da PCA (variáveis preditoras) foram utilizados para testar a relação da vegetação com as assembleias. A variação entre sítios úmidos e secos e a variação temporal foram testadas com análise multivariada por permutação (PERMANOVA) usando a matriz de similaridade de Bray-Curtis. Foram coletados 6281 indivíduos, sendo 3168 adultos pertencentes a 100 espécies de 12 subfamílias e seis famílias das superfamílias Acridoidea, Eumastacoidea, Proscopioidea e Tetrigoidea. Gomphocerinae foi a subfamilila mais abundante (N=1525) e diversa (S=38). Amblytropidia robusta foi a espécie mais abundante (N=337), seguida de Amblytropidia geniculata (N= 192), Pellopedon brunneum (N=150) e Carbonellacris grossa (N=138). A variação espacial das assembleias não foi explicada pela estrutura da vegetação, mas sim pela umidade dos sítios. Sítios secos foram mais abundantes (N=1751) e mais ricos (S=81), com 21 espécies exclusivas, os sítios úmidos com 1417 indivíduos e 79 espécies, sendo 20 exclusivas. A variação entre as épocas do ano foi significativa e uma assembleia de sítios úmidos na época de chuva se diferenciou das demais. Vinte e quatro espécies foram registradas apenas em uma época do ano, demonstrando a importância de estudos na dimensão temporal